Arte e imagem na Estética de Henri Maldiney
Abstract
No âmbito do debate que problematiza as estruturas ontológicas do existente como ser-no-mundo, o filósofo francês Henri Maldiney centra os seus desenvolvimentos teóricos no plano ante-predicativo e inintencional da experiência, no qual se radica o sentir e a partir do qual se explicitam, no horizonte da transpassibilidade e da transpossibilidade, os existenciais do encontro, surpresa e ritmo, fundamentais na compreensão da experiência estética-artística. Constituindo aquele plano o campo privilegiado do encontro com a arte, será questionado, no nosso texto, o nexo da articulação entre arte e imagem, desenvolvendo-se esta questão no confronto entre forma e imagem, realidade da imagem e imagem da realidade, visão estética e visão imagificante [imageante]. A concepção heideggeriana de Existência [Existenz] assim como alguma da pesquisa do neuro-psiquiatra Erwin Straus e da de Husserl sobre o plano passivo da experiência serão convocadas na análise, com o intuito de mostrar o modo como Maldiney a partir daquelas contribui de forma singular e significativa no aprofundamento desse plano inintencional da experiência que designa por «dimensão pática da existência».
ABSTRACT
Art and Image in Henri Maldiney’s Aesthetics
In the debate over the ontological structures of the entity that exists as being-in-the-world, the French philosopher Henri Maldiney focuses his theoretical developments on the unintentional and pre-predicative dimension of experience, where sensing (sentir) takes its origin, and based on which the Existentials of “encounter”, “surprise” and “rhythm”, that are key to understanding the aesthetic-artistic experience, are explained in the horizon of transpassibility and transpossibility. Given that that dimension is the privileged field of encounter with art, this paper will raise the question of the nexus of the articulation between art and image. This question will be developed through the opposition of form and image, of the reality of image and the image of reality, and the aesthetic vision and imaginative vision. In this analysis, we will rely upon the Heideggerian conception of Existence, as well as some of Husserl’s and the neuro-psychiatrist Erwin Straus’s researches into the passive dimension of experience, with the purpose of showing how Maldiney, starting from them, contributed in a singular and significant way to the deepening of that unintentional dimension of existence which he calls “pathic”.
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