Gesto, coisa e não-coisa na fenomenologia hermenêutica de V. Flusser
Abstract
RESUMO
A fenomenologia flusseriana propõe-se como um processo, uma estratégia e, simultaneamente, uma crítica: chamar-lhe-íamos uma "fenomenologia interrogativa" ou parafenomenologia cujas indagações são autênticos pontos de "repère", marcas que assinalam limites e estabelecem caminhos, articulando-se em teias referenciais que constroem criativamente um mapa descritor e interpretativo da nossa experiência tal qual é. Como tal, trata-se de uma fenomenologia que se apoia na hermenêutica, sendo que sua a finalidade é de ordem onto-existencial. A análise proposta, a partir do âmago problemático do questionar fenomenológico, é a de virar a atenção para algo sempre manifesto e, muitas vezes, ignorado ou indiferente: uma reflexão sobre o gesto. Esta possível filosofia do gesto permite perceber a relação de uma sociedade/civilização na qual se anulou o abismo entre o real e o virtual, onde é possível pensar as coisas (Dinge) e as não-coisas/inobjetos (Undinge), por mais absurda que esta última expressão aparente ser. Mais importante, ainda, é a abertura para a compreensão de uma nova condição humana emergente e o estranhamento de uma sociedade pautada por critério não históricos: a entrada na chamada pós-história.
Palavras-chave: Fenomenologia - Gesto - Coisa - Não-coisa
ABSTRACT
The "flusserian" phenomenology regards itself as a process, a strategy and, simultaneously as a criticism: it would be named an "interrogative phenomenology" or paraphenomenology whose researches are authentic points of "repère", features that distinguish boundaries and establish paths, connecting them in referential webs that creatively construct a describing and interpretative map of our experience such as it really is. Thus, it is a phenomenology supported by hermeneutics, being its purpose onto-existential. The proposed analysis, from the problematic core of the phenomenological questioning, is that of grabbing the attention to something always expressed and, quite often, ignored or indifferent: a reflection on the gesture. This possible philosophy of the gesture enables the understanding of the relationship of a society/civilization in which the abyss between real and virtual was nullified, where it is possible to think things (Dinge) and the non-things/non-objects (Undinge), as much absurd as this last expression may seem. More important, though, is the openness to the understanding of a new emerging human condition and the strangeness of a society ruled by non-historical criteria: the entrance to the so called post-history.
Keywords: Phenomenology - Gesture - Thing - Non-thing